Juros nas alturas e uma nova forma de investimento em renda fixa: ETFs ou BDR de ETFs
No mundo dos investimentos também temos esta sopa de letrinhas que identificam produtos ou indicadores financeiros. Talvez CDB, SELIC, RDB, CDI, CRA, CRI e LCA sejam mais conhecidos para você do que ETF e BDR.
Na [2a.INVEST] já apresentamos estas modalidades de investimento e agora focamos nestes investimentos com a opção de renda fixa.
E apesar da sigla se assemelhar, ETFs não tem nada de extra-terrestre (ET). Tem a ver com a criatividade do mercado em criar novas formas de investimentos. A sigla vem do inglês: "Exchange Traded Funds".
Portanto os ETFs nada mais são do que fundos de investimento com cotas negociadas na Bolsa de Valores. Eles também são chamados de “fundos de índice”, um apelido que explica a funcionalidade desse tipo de investimento. Eles misturam características de fundos com ações. Saiba tudo sobre ETFs, clicando aqui.
E os BDR de ETFs são recibos de fundos estrangeiros negociado na B3. Saiba tudo sobre BDRs, clicando aqui.
A vez da Renda Fixa no Brasil e no mundo
Com o aumento dos juros pelos bancos centrais no Brasil (BCB) e nos Estados Unidos (FED), os investimentos em renda fixa tem chamado a atenção dos investidores.
Na semana passada falamos de inflação e ela é um dos componentes que separam os juros nominais dos juros reais.
O juro real no Brasil é hoje de 8,15% a.a. (Juros nominais de 13,75% e inflação de 5,6%, em Fev/23).
Nos Estados Unidos o juro real ainda é negativo, apesar do aumento recente pelo FED para os juros nominais que variam agora de 4,75% a 5%. A inflação por lá, nos últimos 12 meses terminados em Jan/23 ainda esta acima dos juros nominais: 6,4%, medida pelo CPI.
Este aumento da taxa de juros pelo FED faz aumentar o interesse pelos BDRs de ETFs de renda fixa.
Conheça os ETFs de Renda Fixa negociados na Bolsa
Há uma variedade de ETFs que replicam diversos índices. É importante conhecer cada um deles antes de investir, pois cada um pode se adequar melhor ao que você como investidor procura.
Índices de Renda Fixa
Os ETFs de renda fixa foram construídos como uma estratégia mais recente dos gestores para atrair cada vez mais o público conservador. Na Bolsa brasileira, é possível encontrar nove ETFs de Renda Fixa (1).
Abaixo, aos ETFs geridos pelo Itaú:
IMAB11: Esse ETF é uma seleção de títulos variados do Tesouro IPCA+, acompanhando o IMA-B, índice da Anbima que faz a média de desempenho desse tipo específico de título público.
IB5M11: Esse ETF acompanha o IMA-B5+, específico para os vencimentos mais longos do IPCA+, isto é, de cinco anos ou mais.
IRFM11: Esse ETF também é destinado ao Tesouro Direto, porém acompanha os títulos prefixados. O índice correspondente é o IRF-M P2, calculado pela Anbima, composto por títulos do Tesouro prefixados, partindo de 3 anos ou mais de vencimento.
B5P211: Este ETF acompanha o IMA-B5, para vencimentos até 5 anos.
No site do Itaú, temos as orientações para investimentos em cada um deles:
Os demais ETFs:
FIXA11: é um ETF de renda fixa que replica o S&P/B3 Índice de Futuros de Taxas de Juros, acompanhando o retorno de uma carteira teórica composta por contratos futuros de DI com vencimento de três anos (juros prefixados).
DEBB11: é um ETF do BTG PACTUAL que acompanha o índice TEVA DEBÊNTURES DI.
IMBB11: é um ETF do Bradesco que acompanha o índice IMA-B
B5MB11: é um ETF do Bradesco que acompanha o índice IMA-B5+
LFTS11: ETF de títulos públicos pós-fixados da B3, replica o índice formado por LFTs (ou Tesouro Selic)
Lançado em novembro de 2022, o LFTS11 foi o primeiro ETF de títulos públicos pós-fixados da B3, replicando um índice formado por LFTs (ou Tesouro Selic). E rapidamente se tornou o mais negociado entre todos os fundos de índices de renda fixa, com um volume médio diário de quase R$ 13,371 milhões em fevereiro, mostram os dados do Boletim Mensal ETF da B3 (2).
A relação completa de ETFs listados na B3 você encontra no final deste artigo nos links úteis (1).
Quais as vantagens dos ETFs?
Um ETF tem algumas características dos fundos de investimentos e outras dos ativos negociados na bolsa de valores (ações). Ele proporciona algumas vantagens em relação a outras opções do mercado, que você pode conferir abaixo:
Simplicidade na negociação
Comprar e vender ETFs é tão simples quanto negociar uma ação individual na bolsa de valores. Paga-se uma taxa de corretagem em cada operação e acompanham-se as cotações por meio dos dados divulgados diariamente pela B3. O desempenho do ETF reflete a média da performance de todas as ações ou outros papéis incluídos nele, o que é uma mão na roda para quem não dispõe de muito tempo para montar e monitorar uma carteira de ações.
Diversificação dos investimentos
Um ETF oferece aos investidores a possibilidade de aplicar em muitos ativos de uma vez só, comprando apenas as cotas do fundo. Desta forma, o risco da carteira pode ser diluído mesmo que o recurso disponível para o investimento seja pequeno. É muito mais difícil e caro montar um portfólio diversificado e equilibrado ação por ação, do que fazer isso por meio das cotas de apenas um ETF.
Facilidade de balanceamento
Os índices de referência do mercado costumam ter a sua composição atualizada periodicamente. Quem quer manter uma carteira aderente a esses indicadores, precisa ajustar a participação de cada carteira conforme essas atualizações são realizadas. Já quem investe em ETFs não precisa se preocupar com isso. Os gestores fazem os ajustes necessários na carteira sempre que a composição dos índices de referência dos fundos é alterada. Os cotistas não precisam fazer nada para que isso aconteça.
Custo
A taxa de administração dos ETFs é bem menor que a de fundos de investimentos tradicionais. No caso dos fundos de índices negociados no pregão da B3, em fevereiro de 2023, as taxas variam entre 0,05% a 0,60% ao ano. Isso é possível porque os ETFs têm uma política de investimento passiva, diretamente atrelada à composição de um indicador de mercado subjacente, o que reduz os custos operacionais relacionados à gestão.
Usos variados
Como os ETFs são valores mobiliários listados na bolsa de valores, eles podem ser usados pelos investidores como margem para realizar outras operações no pregão. Esse é o tipo de possibilidade que não existe com os fundos tradicionais.
A versatilidade dos ETFs permite que eles sejam usados também em operações de aluguel. Com os aluguéis (ou empréstimos, como também são chamados), investidores que compram os fundos de índices com o objetivo de mantê-los na carteira no longo prazo podem obter uma renda extra. Eles podem oferecer as suas cotas emprestadas a outros investidores, em troca de uma taxa de remuneração, para que eles realizem certos tipos de negociações no mercado.
Quem toma ETFs emprestados pode utilizá-los para realizar uma venda no mercado à vista ou até como margem de garantia para operações no mercado futuro, entre outras possibilidades.
Quais os riscos, as desvantagens e a tributação do investimento em ETF?
No caso dos ETFs de renda fixa, o risco está relacionado à variação de preço dos títulos de renda fixa que compõem o índice de referência.
Além disso, pode haver descolamento entre a rentabilidade do índice e do fundo, ou seja, o desempenho do fundo pode não refletir integralmente a rentabilidade do índice que ele acompanha, ou risco de liquidez das cotas do fundo ou dos ativos que compõem a carteira do fundo, por exemplo, além dos riscos aos quais os ativos que compõem o fundo estão naturalmente sujeitos, como riscos de mercado e sistêmico.
Liquidação
Já para os ETFs de renda fixa, a liquidação financeira de sua compra e venda ocorrerá no dia útil seguinte (D+1) ao do fechamento da operação. ATENÇÃO: as ações tem liquidação em D+2!
Tributação ETF de Renda fixa
Os rendimentos ou ganhos de capital auferidos pelo investidor em ETFs de renda fixa estão sujeitos ao Imposto de Renda que é cobrado no momento do resgate da aplicação, pagamento de rendimentos ou alienação do ativo no mercado secundário e direto na fonte, ou seja, você não precisa se preocupar em realizar o recolhimento posteriormente.
A alíquota de IR pode variar entre 15%, 20% ou 25%, já que os ETFs de renda fixa possuem tributação conforme o prazo médio de repactuação ("duration") dos títulos que os compõem. Quanto maior a "duration", menor será a alíquota de IR. Confira abaixo:
Confira abaixo a alíquota referente a alguns dos ETFs de Renda Fixa listados na B3 atualmente:
Custos
Os custos são os mesmos de uma operação com ações, ou seja, de corretagem e emolumentos, antes de operar consulte sempre sua corretora, muitas já oferecem taxa de corretagem zero. Além disso, cada ETF cobra uma taxa de administração do fundo. Essa taxa é cobrada diretamente das cotas dos fundos, não havendo débito deste valor na compra do ETF.
Qual é a diferença entre um ETF e um fundo de investimento?
Uma diferença importante entre os ETFs e os fundos de investimento tradicionais está na gestão. Embora existam fundos tradicionais com gestão passiva, muitos deles têm gestão ativa. Significa que os seus gestores estão sempre procurando as melhores oportunidades de aplicação para obter retorno acima do seu índice de referência, seguindo a política de investimento estabelecida pelo seu regulamento.
Já um ETF sempre tem gestão passiva – ou seja, os gestores sempre se preocupam apenas em replicar a composição e o desempenho de um índice de referência. Farão isso mesmo que, em algum momento, acreditem que outros papéis (que não os incluídos no índice) sejam opções com melhores perspectivas de retorno. Isso porque a finalidade de um ETF é justamente oferecer aos investidores uma forma de acompanhar o retorno dos indicadores, seja ele positivo ou negativo.
Também é diferente a maneira de realizar o investimento em si. Os fundos tradicionais são comprados diretamente das prateleiras de produtos disponíveis nas corretoras de valores e dos bancos. Já os ETFs são negociados no pregão da bolsa de valores. É de lá que precisam ser adquiridos, também com a intermediação de uma corretora.
Outra diferença é a maneira de acompanhar o desempenho. As informações sobre a rentabilidade dos fundos tradicionais precisam ser fornecidas pelos seus administradores a entidades como a Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). É lá que os investidores podem consultar esses dados, com alguns poucos dias de intervalo. Já no caso dos ETFs, o acompanhamento do valor das cotas pode ser feito em tempo real, apenas seguindo as cotações divulgadas ao longo do dia pela B3.
ETF de títulos públicos pós-fixados
A renda fixa sempre foi muito atrativa para os brasileiros. Com o ETF LFTS11, a possibilidade de capturar um ganho até superior ao da taxa do CDI (indicador de referência para essa classe de ativos) pode justificar o crescimento do interesse pelo mesmo.
Uma das vantagens do ETF em relação a outras aplicações de renda fixa está na tributação, como vimos acima. Sobre as outras aplicações, o Imposto de Renda incidente varia de acordo com o prazo do investimento. A alíquota mais alta é de 22,5%, caso o resgate seja realizado em até seis meses. A mais baixa, de 15%, só é aplicada se o investimento durar pelo menos dois anos.
Nos ETFs de renda fixa, o que conta é o prazo médio dos títulos que compõem a carteira do fundo. No caso do LFTS11, todos os papéis têm vencimento acima de dois anos — e, por isso, a alíquota de Imposto de Renda sempre é de 15%. Mesmo que o investidor venda suas cotas no curto prazo.
A tributação é mais vantajosa inclusive do que a aplicada no investimento direto em títulos públicos, por meio do Tesouro Direto.
Fora isso, nas aplicações de renda fixa de até 30 dias, é cobrado também o IOF (Imposto sofre Operações Financeiras). Já no caso de ETFs de renda fixa, não há incidência desse imposto.
Com o ETF ganhamos liquidez, ao invés de aguardar 2 anos para ter a alíquota de 15%, temos ela de imediato!
No gráfico abaixo temos os rendimentos dos ETFs de renda fixa comparados com o CDI de 01/01/2023 a 22/03/2023, segundo o site maisretorno.com. Observe que alguns ETFs tem variação inferior ao CDI.
Recibos de ETFs de renda fixa internacional
O volume médio diário de negociação dos BDRs de ETFs de renda fixa somou R$ 9,1 milhões em fevereiro, contra míseros R$ 164 mil em novembro, segundo a B3.
A BlackRock, que é a maior gestora de fundos do mundo é a responsável por oito dos 18 BDRs de ETFs de renda fixa disponíveis na B3.
Mas diante de uma das elevações mais rápidas e importantes das taxas já vistas nos Estados Unidos, os BDRs de fundos acabaram apresentando retornos atrativos, mudando a história dos produtos em solo nacional.
Dos oito BDRs de ETFs de renda fixa da BlackRock, seis reproduzem índices de títulos do Tesouro americano e dois investem em papéis corporativos de empresas “grau de investimento” – ou seja, aquelas com menor risco de crédito. Ganhou a preferência dos investidores o BHYG39, recibo de um fundo que compra títulos do Tesouro com vencimento de curto prazo (até um ano).
Outra fonte de interesse é o BSHV39, BDR de um ETF que investe em papéis de empresas com grau de investimento. O rendimento do produto é de aproximadamente 5,3% ao ano, em dólar, enquanto o do BHYG39, de títulos públicos, alcança 4,6% ao ano em dólar.
Os BDRs de ETFs em seu desempenho no Brasil incorporam também as variações do câmbio – o que pode ser bom ou ruim para os rendimentos, a depender do momento econômico.
O investimento inicial é baixo, a partir de R$ 50. E todos os BDRs de ETFs possuem formadores de mercado, instituições financeiras contratadas para assegurar que haja liquidez dos papéis para os investidores.
Clique aqui para conhecer todas as opções de ETFs e BDR de ETFs disponíveis na B3. Utilize os filtros da tela para listar apenas aqueles de renda fixa.
Links úteis:
(1) B3: Lista de ETFs Renda Fixa: http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/etf/renda-fixa/etfs-listados/
(2) Boletim Mensal ETF Fev/23: https://www.b3.com.br/data/files/28/A6/9E/F2/33CC6810DE2C7168AC094EA8/BoletimETF%20-%2002M23.pdf
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